sábado, 20 de agosto de 2016

Meia Noite / Capítulo 2 (Parte 1)

O Sol ainda não tinha nascido quando Garra de Amora Doce saiu com a Patrulha do Amanhecer. Haviam se passado alguns dias desde a Cerimônia de Guerreira de Cauda Castanha e as folhas já estavam se tornando douradas, os primeiros sinais da Estação das Folhas Caídas começavam a surgir pela Floresta, mas ainda não havia chovido por mais de uma Lua. O jovem Guerreiro se encolheu quando a grama longa, repleta de orvalho, roçou seu pêlo. Teias de Aranha recobriam os arbustos, formando uma fina camada acizentada sobre eles, e o ar estava repleto de aromas da Floresta. O barulho dos pássaros acordando se sobrepôs ao som suave dos passos dos gatos.
O irmão de Coração Brilhante, Garra de Espinho, que estava liderando a Patrulha, parou para fitar Pêlo Gris e Garra de Amora Doce.
— Estrela de Fogo ordenou que nós chequemos a Rocha das Cobras, — Ele miou. — Tomem cuidado com cobras, há mais delas pois o clima tem estado muito quente.
Instintivamente, Garra de Amora Doce desembainhou suas garras. As cobras iriam estar escondidas em rachaduras agora, mas assim que o Sol surgisse no horizonte o calor iria força-las para fora. Uma mordida das mandíbulas venenosas poderiam matar um Guerreiro antes mesmo que o Curandeiro pudesse fazer qualquer coisa para ajudá-lo.
Antes de eles terem ido muito longe, Garra de Amora Doce começou a escutar sons estranhos atrás dele, como se alguma coisa estivesse rastejando pelo solo. Ele pausou, esperando a chance de pegar uma presa desprevenida. Primeiramente, ele não conseguia ver nada; então ele percebeu as frondes de uma avenca se ondularem, porém não havia vento. Ele inalou o ar novamente, antes de soltar um suspiro desanimado.
— Saia daí, Pata de Esquilo.
Houve um momento de silêncio. Então a avenca se agitou novamente e suas frondes se partiram para revelar uma gata côr de gengibre.
— O que está havendo? — Garra de Espinho se aproximou de Garra de Amora Doce, com Pêlo Gris logo atrás dele.
O Guerreiro indicou a Aprendiz com um balanço de cauda.
— Eu escutei algo atrás de nós, — Ele explicou. — Ela deve ter nos seguido desde o Acampamento.
— Não fala sobre mim como se eu não estivesse aqui! — Pata de Esquilo protestou com fervor.
— Você não deveria estar aqui! — Garra de Amora Doce retrucou.
— Ei vocês dois, parem de discutir. — Garra de Espinho interrompeu, com um tom severo. — Vocês não são mais Filhotes. Pata de Esquilo, diga-nos o que você está fazendo. Algum gato te mandou aqui com alguma mensagem?
— Ela não estaria escondida em uma avenca se tivessem! — Garra de Amora Doce não resistiu retrucar.
— Não, não me mandaram. — Ela miou, e lançou um olhar um pouco ressentido para Garra de Amora Doce. — Eu queria vir com vocês, só isso. Eu não tenho estado em uma Patrulha faz eras!
— E você não foi dita para ir nesta. — Garra de Espinho respondeu. — Pelagem de Poeira sabe que você está aqui?
— Não, — Pata de Esquilo admitiu. — Noite passada ele prometeu que iríamos treinar, mas todos sabem que ele passa o dia inteiro no berçário com Nuvem de Avenca e seus Filhotes!
— Agora não mais, — Pêlo Gris miou. — Não desde que os Filhotes abriram seus olhos. Pata de Esquilo, eu acho que você pode se meter em problema se Pelagem de Poeira vier procurar por você.
— Você deveria voltar para o Acampamento o mais rápido possível. — Garra de Espinho decidiu.
A Raiva queimou nos olhos de Pata de Esquilo e ela deu um passo à frente, ficando assim nariz a nariz com Garra de Espinho.
— Você não é meu mentor, então não me dê ordens!
Garra de Espinho suspirou pacientemente, e Garra de Amora Doce admirou seu auto controle. Se Pata de Esquilo tivesse falado com ele desse modo, o Guerreiro estaria tentado a arrancar suas orelhas! Até mesmo Pata de Esquilo percebeu que tinha ido longe demais.
— Me desculpe, Garra de Espinho, — Ela miou. — Mas é verdade! Eu não saio em uma Patrulha há dias. Por Favor, posso ir com vocês?
Garra de Espinho compartilhou um olhar com Pêlo Gris e Garra de Amora Doce.
— Tudo bem, — Ele miou. — Mas não me culpe se Pelagem de Poeira te transformar em comida de corvo quando retornarmos!
Pata de Esquilo deu um pulinho de entusiasmo.
— Muito obrigada, Garra de Espinho! Onde estamos indo? Estamos procurando por alguma coisa específica? Vai haver problemas?
Garra de Espinho agitou sua cauda sobre a boca de Pata de Esquilo para silencia-la.
— Rocha das Cobras. — Ele respondeu calmamente. — E é nosso dever nos certificar de que não haverá problema.
— No entanto, fique alerta com as cobras! — Garra de Amora Doce advertiu.
— Eu sei! — Pata de Esquilo disparou, sua cauda felpuda se agitando com impaciência.
— E precisamos fazer isso com o menor barulho possível. — Garra de Espinho ordenou. — Eu não quero ouvir mas nenhum pio vindo de você a não ser que seja uma coisa que eu precise saber.
Pata de Esquilo abriu sua boca para responder, mas então ela compreendeu o sentido do que ele havia dito e acenou positivamente com a cabeça.
A Patrulha continuou seu caminho. Garra de Amora Doce tinha que admitir que agora que Pata de Esquilo havia encontrado seu caminho, ela estava agindo mais calmamente, deslizando silenciosamente por entre os arbustos e ficando alerta a qualquer ruído ou movimento na vegetação rasteira.
O Sol já tinha nascido completamente quando os gatos chegaram ao seu destino e avistaram as formas suaves e arredondadas que formavam a Rocha das Cobras. Um buraco escuro se abria bem na base de uma das rochas, foi lá que a matilha de cachorros tinha se escondido. Garra de Amora Doce sentiu um arrepio ao se lembrar que Estrela Tigrada, seu próprio pai, tinha tentado levar esses animais selvagens até o Acampamento do Clã do Trovão como um ato de vingança contra seus antigos companheiros de Clã.
Pata de Esquilo percebeu sua expressão preocupada, e miou em um tom provocativo.
— Com medo de cobras? — Ela desafiou, com um brilho travesso em seus olhos verdejantes.
— Sim, — O Guerreiro malhado respondeu secamente. — E você também deveria estar.
— Tanto faz. — Ela suspirou. — Elas estão provavelmente com mais medo de nós do que nós delas.
Antes que Garra de Amora Doce pudesse impedi-lá, a Aprendiz avançou em direção a Clareira, obviamente com a intenção de enfiar seu focinho no buraco.
— Pare! — A voz ríspida de Garra de Espinho fez com que ela se encolhesse. — Pelagem de Poeira não te ensinou que não devemos ir fuçar em qualquer lugar antes de sabermos o que iremos encontrar?
— Claro que ele me ensinou... — Pata de Esquilo respondeu, soando envergonhada.
— Então aja como se você tivesse ao menos escutado ele uma ou duas vezes. — Garra de Espinho se aproximou da Aprendiz. — Dê uma boa inalada no ar. E veja se você consegue detectar alguma coisa.
A jovem gata se levantou com sua cabeça erguida, tragando o ar fresco da manhã em sua boca.
— Camundongos! — Ela miou com entusiasmo. — Podemos caçar, Garra de Espinho?
— Mais tarde. — O Guerreiro dourado respondeu. — Agora se concentre.
Pata de Esquilo inalou o ar novamente.
— O Caminho do Trovão, bem ali. — Ela agitou sua cauda em direção a uma trilha de terra que ia diretamente até o Caminho do Trovão. — E um Duas Pernas com um cachorro, mas o cheiro já está fraco... Eu diria que eles estiveram aqui ontem.
— Muito bem. — Garra de Espinho parabenizou Pata de Esquilo, soando levemente impressionado, e ela agitou sua cauda com um ronronar de felicidade.
— Tem mais alguma coisa, — Ela continuou. — Um cheiro horrível... Eu não me lembro de ter sentido esse cheiro estranho em toda minha vida!
Garra de Amora Doce ergueu sua cabeça e tragou o ar. Rapidamente, ele identificou o cheiro que Pata de Esquilo tinha mencionado.
— Texugo. — Ele miou, sentindo suas patas pinicarem com um mal pressentimento.
— Correto. — Garra de Espinho acenou positivamente. — Parece que um Texugo se mudou para a Caverna que os cães habitavam.
— Sorte nossa! — Pêlo Gris ronronou.
— Por que? — Pata de Esquilo questionou os Guerreiros. — Como se parece um Texugo? Eles são um problema?
— Sempre! — Garra de Amora Doce rosnou. — Eles não são bons para nenhum gato, e iriam te matar no exato segundo em que te vissem.
Os olhos de Pata de Esquilo se arregalaram, no entanto ela parecia mais impressionada do que assustada.
Cuidadosamente, Pêlo Gris se aproximou da caverna escura, tragou o ar e deu uma olhada no interior.
— Aqui é tão escuro quanto um coração de raposa! — Ele reportou. — Mas eu não acho que o Texugo esteja em casa.
Enquanto ele estava falando Garra de Amora Doce sentiu o cheiro mais uma vez, muito mais forte dessa vez e vindo de algum lugar atrás deles. Ele se voltou para trás e viu uma cabeça pontuda e listrada aparecer de trás de um tronco de uma árvore próxima. As patas grandes e poderosas do Texugo esmagando a grama, e seu nariz inspecionando o solo.
— Cuidado! — O Guerreiro tigrado gritou, sua pelagem se eriçando com o medo. Ele nunca estivera tão próximo de um Texugo em toda sua vida. — Corra Pata de Esquilo!
Assim que Garra de Amora Doce deu o alerta, Pêlo Gris se escondeu na vegetação rasteira enquanto Garra de Espinho correu em direção à segurança das árvores. Mas Pata de Esquilo permaneceu onde ela estava, seu semblante fixado na criatura.
— Por aqui, Pata de Esquilo! — Garra de Espinho gritou, começando a retornar em direção a ela.
A Aprendiz hesitou; Garra de Amora Doce correu até ela e a empurrou em direção às árvores.
— Eu disse "Corra"!
Seus olhos verdes, brilhando com medo e entusiamo, encontraram os dele por um tique taque de coração. O Texugo continuava a avançar, seus pequenos olhos negros faiscaram quando ele detectou o odor dos gatos. Pata de Esquilo correu em direção aos limites da Clareira e escalou a árvore mais próxima. Assim que atingiu um dos galhos, ela cravou suas garras nele e se encolheu com sua pelagem gengibre eriçada.
Garra de Amora Doce também escalou a árvore, e se colocou ao lado de Pata de Esquilo. Abaixo deles o Texugo cambaleava de um lado para o outro, como se não soubesse para onde os gatos tinham ido. Ele virou sua cabeça preta e branca de um lado para o outro. Garra de Amora Doce sabia que a visão dos Texugos não era muito boa; Normalmente eles apenas saiam à noite, depois que escurecia, e esse Texugo devia estar voltando de uma caminhada noturna.
— Ele iria nos comer? — Pata de Esquilo perguntou, ainda ofegante.
— Não, — Garra de Amora Doce respondeu, tentando diminuir o ritmo de seu coração palpitante. — Até mesmo uma Raposa pode matar para comer, mas um Texugo vai te matar só pelo fato de estar no seu caminho. Nós não somos presas para eles, mas eles não vão tolerar nenhum intruso em seu território. E porque você ficou lá embaixo, olhando o Texugo, ao invés de correr como nós ordenamos?
— Eu nunca tinha visto um Texugo antes, e eu queria. Pelagem de Poeira disse que devemos tentar aproveitar todas as experiências que podemos.
— Isso inclui a experiência de ter seu couro arrancado? — Garra de Amora Doce retrucou secamente, mas pela primeira vez Pata de Esquilo não respondeu.
Enquanto ele falava, Garra de Amora Doce não tinha tirado seus olhos da criatura nem por um segundo. Ele soltou um suspiro de alívio quando o Texugo desistiu de sua busca e retornou para a caverna.
Garra de Espinho pulou da árvore onde ele havia se abrigado.
— Foi mais perto do que eu gostaria. — Ele miou ao passo que Pata de Esquilo e Garra de Amora Doce desciam de sua árvore para se juntarem a ele. — Onde está Pêlo Gris?
— Bem aqui. — A cabeça cinza pálida de Pêlo Gris apareceu em meio a um arbusto de madressilvas. — Vocês acham que esse é o mesmo Texugo que matou Pele de Salgueiro na última Estação Sem Folhas?
— Talvez, — Garra de Espinho respondeu. — Cauda de Nuvem e Pêlo de Rato o espantaram do Acampamento, mas nós nunca descobrimos onde ele foi.
Um sentimento de tristeza invadiu Garra de Amora Doce quando ele se lembrou da gata cinza prateada. Pele de Salgueiro era a mãe de Cauda Castanha, Pêlo de Fuligem e Bigode de Chuva; mas ela não tinha vivido para ver seus Filhotes se tornarem Guerreiros.
— Então o que nós vamos fazer em relação a isso? — Pata de Esquilo perguntou rapidamente. — Devemos ir até lá e matá-lo? Tem quatro de nós, e somente um Texugo. O quão difícil seria?
Garra de Amora Doce estremeceu, enquanto Garra de Espinho fechou os olhos lentamente e esperou um momento antes de falar.
— Pata de Esquilo, você nunca vai até a Toca de um Texugo ou de uma Raposa. Eles vão atacar imediatamente, não tem espaço o suficiente para se locomover e além disso você não vai conseguir ver nada na escuridão.
— Mas...
— Não! Nós vamos voltar para o Acampamento e reportar isso. Estrela de Fogo vai decidir o que fazer.
Sem esperar por uma resposta de Pata de Esquilo, ele caminhou na direção de onde eles tinham vindo. Pêlo Gris o seguiu de perto, mas Pata de Esquilo parou na borda da Clareira.
— Nós teríamos conseguido, — Ela reclamou, olhando novamente para a entrada escura da caverna. — Eu podia tê-lo atraído para fora e então...
— E então ele teria te matado com apenas um golpe, e nós ainda sim teríamos que voltar e reportar isso. — Garra de Amora Doce miou, numa tentativa de desencorajar a Aprendiz. — O que nós iríamos dizer? 'Desculpe Estrela de Fogo, mas nós acidentalmente deixamos um Texugo matar sua Filha'? Ele teria arrancado nosso couro! Texugos são más notícias, ponto final.
— Bem, você não vai encontrar Estrela de Fogo deixando um Texugo à solta no território do Clã do Trovão sem fazer nada. — Pata de Esquilo elevou sua cauda felpuda e mergulhou na vegetação rasteira para se colocar ao lado de Garra de Espinho e Pêlo Gris.
Garra de Amora Doce ergueu seus olhos côr de âmbar e murmurou.
— Pelo amor do Clã das Estrelas! — E seguiu os três gatos pela Floresta.

sexta-feira, 27 de maio de 2016

Meia Noite / Capítulo 1


Folhas farfalharam quando o jovem gato malhado deslizou através de uma abertura entre dois arbustos, com suas mandíbulas largas abertas, prontas para detectar qualquer cheiro de presa. nesta noite quente, numa estação das Folhas Verdes atrasada, a floresta estava repleta de arranhões, feitos por pequenas criaturinhas. Movimentos se contorceram interminavelmente na borda de sua visão, mas quando virou sua cabeça não conseguiu ver nada, apenas espessos aglomerados de avenca e amoreiras, manchados com a luz da Lua. 
De repente ele saiu em uma larga clareira, e olhou ao redor em confusão. Ele não se lembrava de ter estado nesta parte da floresta antes. Grama lisa e curta, colorida em prata, brilhava com a gelada luz da Lua. Esticada á sua frente, em uma rocha suavemente arredondada, um outro gato o observava. A luz das estrelas faiscou em seu pêlo, e seus olhos pareciam duas pequenas luas. O gato ficou ainda mais desnorteado quando a reconheceu.
— Estrela Azul? — Ele miou, sua voz estridente com descrença.
Ele era apenas um aprendiz quando a líder do Clã do Trovão tinha morrido, quatro estações atrás, pulando dentro de um desfiladeiro com um bando de cães sedentos de sangue atrás dela. Assim como todo o clã, ele tinha honrado ela pela maneira que ela tinha sacrificado sua vida para salvá-los. Ele nunca tinha pensado em vê-la novamente, e pela primeira vez imaginou que deveria estar sonhando.
— Chegue mais perto, jovem guerreiro, — Estrela Azul miou. — Tenho uma mensagem para você.
Tremendo com entusiasmo, o gato malhado rastejou através do caminho repleto de relva até que ele se agachou em baixo da Rocha e fitou o semblante de Estrela Azul.
— Eu estou escutando, Estrela Azul. — Ele miou.
— Um grande perigo se aproxima da floresta, — Ela o contou. — Uma Nova Profecia deve ser realizada se os Clãs desejam sobreviver. Você foi escolhido para se encontrar com outros três gatos na Lua Nova, e vocês devem ouvir atentamente o que Meia-Noite lhes dizer.
— O que isso significa? — O jovem gato sentiu uma pontada de terror, fria como a neve, percorrer sua espinha. —Que tipo de perigo? E como Meia-Noite pode nos dizer alguma coisa?
— Tudo se esclarecerá para você, — Estrela Azul respondeu.
A voz dela se dissipou, ecoando de uma maneira estranha como se ela estivesse falando de uma caverna muito abaixo da superfície. A luz da Lua também começou a escurecer, deixando sombras espessas surgirem das árvores ao redor deles.
— Não, espere! —O gato malhado choramingou. — Não vá!
Ele soltou um uivo aterrorizado, encolhendo suas patas e cauda ao que a escuridão se levantava e o tragava aos poucos. Alguma coisa o cutucou e seus olhos se abriram para revelar Listra Cinzenta, o representante do Clã do Trovão, sentado ao seu lado com uma pata levantado acima dele para estimulá-lo novamente. Ele estava se debatendo sobre seu ninho de musgo na toca dos guerreiros, com a luz dourada do Sol penetrando através dos ramos acima de sua cabeça.
— Garra de Amora Doce, sua bola de pêlos louca! — O representante miou. — O que é todo esse barulho? Você assustou todas as presas daqui até Quatro Árvores.
— Desculpe. — Garra de Amora Doce se sentou e começou a retirar alguns restos de musgo de seu pêlo escuro. — Eu estava apenas sonhando.
— Sonhando! — Uma voz nova grunhiu.
Garra de Amora Doce virou sua cabeça para ver o guerreiro branco, Cauda de Nuvem, se levantar de um ninho de musgo próximo a ele e se alongar.
— Honestamente, você é tão ruim quanto Estrela de Fogo, — Cauda de Nuvem continuou. — Quando ele dormia aqui, sempre estava balbuciando ou dando espasmos enquanto dormia. Um gato não conseguia ter uma boa noite de sono nem por todas as presas da floresta.
Garra de Amora de Amora Doce revirou suas orelhas para ouvir o quão desrespeitoso o guerreiro falava sobre o líder do Clã. E então ele se lembrou de que esse era Cuada de Nuvem, sobrinho de Estrela de Fogo e antigo aprendiz, bem conhecido por sua língua afiada e desprezo por quase tudo. Sua maneira impudente de falar não o impedia de ser um guerreiro leal ao seu Clã. 
Cauda de Nuvem chacoalhou seu longo pêlo branco e deslizou para fora da toca, e tocou o ombro de Garra de Amora Doce com a ponta de sua cauda numa tentativa de não deixar o amigo magoado em razão de suas palavras afiadas.
— Venham logo e pare de reclamar. — Listra Cinzenta miou. — Está na hora de você fazer alguma coisa útil!
Ele traçou seu caminho através do musgo espalhado no chão da toca para estimular Pêlo Gris á acordar.
— Patrulhas de caça vão sair daqui a pouco. Pêlo de Samambaia está organizando elas.
— Certo, — Garra de Amora Doce miou. Sua visão de Estrela Azul já havia se dissipado, mas usa mensagem ameaçadora ainda ecoava em suas orelhas.
Será que realmente haverá uma nova profecia do Clã das Estrelas? Isso parecia bastante improvável. No começo, Garra de Amora Doce, se perguntou porque ela iria escolher ele para receber a profecia, de todos os gatos do Clã do Trovão. Curandeiros frequentemente recebiam visões do Clã das Estrelas, e o líder do Clã do Trovão, Estrela de Fogo, sempre fora guiado por seus sonhos. Mas elas não eram destinadas á guerreiros ordinários como ele. Tentando culpar sua imaginação criativa em muitas presas frescas na noite anterior, Garra de Amora Doce lambeu seu ombro uma última vez antes de sair da toca atrás de Cauda de Nuvem.
O Sol mal havia acabado de surgir sobre a cerca-viva de espinhosas circundava o acampamento, porém o dia já estava quente. A luz do Sol deva á terra seca do centro da clareira um tom cor-de-mel. Pata Castanha , a mais velha dos aprendizes, estava deitada ao lado das avencas que formavam a toca dos aprendizes, trocando lambidas com seus companheiros de toca Pata de Aranha e Pata de Musaranho.
Cauda de Nuvem tinha desaparecido pelo caminho de urtigas onde os guerreiros faziam suas refeições e já estava devorando um estorninho. Garra de Amora Doce percebeu que a pilha de presas frescas estava baixa; assim como Listra Cinzenta tinha dito, o clã precisava caçar agora mesmo. Ele estava prestes a ir e se juntar ao guerreiro branco quando Pata Castanha se levantou de súbito e veio circundando a clareira em sua direção.
— É hoje! — Ela anunciou excitada.
— O que? — Garra de Amora Doce piscou.
— Minha cerimônia de guerreira! — Ela soltou um ronronar de felicidade, a gata atartarugada se lançou em direção á Garra de Amora Doce; o ataque inesperado o fez rodopiar e os dois lutaram juntos no chão poeirento, assim como eles costumavam fazer quando eram filhotes.
As patas traseiras de Pata Castanha atingiram o ventre de Garra de Amora Doce e ele agradeceu ao Clã das Estrelas que suas garras estavam embainhadas. Não tinha dúvidas que um dia ela iria se tornar uma grande e perigosa guerreira, uma que todos os gatos iriam respeitar.
— Tudo bem, agora já chega. — Garra de Amora Doce gentilmente deu uma cutucada em uma de suas orelhas. — Se você vai se tornar uma guerreira, vai ter que para de se comportar como um filhote.
— Um filhote? — Pata Castanha miou indignada. Ela se sentou á sua frente, seu pêlo eriçado e coberto de aglomerados de poeira. — Eu? Nunca! Eu esperei um longo tempo por isso, Garra de Amora Doce.
— Eu sei. Você merece!
Pata Castanha tinha se aventurado muito perto do Caminho do Trovão, enquanto ela perseguia um esquilo durante a Estação do Renovo. Um monstro dos duas-pernas havia atingido-a de raspão, ferindo seu pescoço. Enquanto ela repousava na toca de Manto de Cinza por três longas, desconfortáveis luas, ao carinho da curandeira, seus irmãos, Pêlo de Fuligem e Bigode de Chuva, haviam se tornado guerreiros. Pata Castanha estava determinada a seguir seus exemplos assim que Manto de Cinza declarou ela apta o suficiente para ser treinada novamente; Garra de Amora Doce tinha visto o quão duro ela trabalhou com sua mentora, Tempestade de Areia, até que seu ombro estivesse tão bom quanto um novo. Ela nunca mostrara nenhum tipo de amargura ao ser forcada a treinar por muitas luas a mais que os usuais aprendizes. Ela realmente merecia sua cerimônia de guerreira. 
— Eu acabei de levar presa fresca para Nuvem de Avenca, — Ela miou para Garra de Amora Doce. — Seus filhotes são bonitos! Você já os viu?
— Não, ainda não. — Garra de Amora Doce respondeu. A segunda ninhada de Nuvem de Avenca tinha nascido no dia anterior.
— Vá agora, — Pata Castanha insistiu. — Você ainda tem tempo o suficiente antes de irmos caçar.
Ela pulou e dançou enquanto dava alguns passos para os lados, como se toda a sua energia tivesse que ir para algum lugar. Garra de Amora Doce caminhou em direção ao berçário, o qual estava escondido nas profundezas de um matagal de amoreiras que ficava perto do centro do acampamento. Ele se espremeu através da entrada estreita, estremecendo quando espinhos raspavam em seus ombros largos. Dentro estava quente e silencioso. Nuvem de Avenca estava deitada de lado no seu ninho de musgo. Seus olhos verdes brilharam quando ela contemplou os três minúsculos filhotes enrolados confortavelmente na curva de seu corpo: um era cinza-pálido que nem ela, e os outros dois malhados de marrom assim como seu pai, Pelagem de Poeira. Ele estava no berçário também, agachado ao lado de Nuvem de Avenca com suas patas dobradas abaixo dele, ocasionalmente raspando sua língua afetivamente sobre sua orelha. 
— Olá Garra de Amora Doce, — Ele miou assim que o jovem guerreiro apareceu. — Veio ver os novos filhotes? — Pelagem de Poeira parecia prestes a explodir de orgulho, bem diferente de seu ar mau humorado e arrogante.
— Eles são bonitos, — Garra de Amora Doce miou, encostando seu focinho no de Nuvem de Avenca. — Vocês já escolheram os nomes?
A Rainha balançou a cabeça negativamente, seus olhos pareciam estar cansados e ela deu uma piscada sonolenta para o guerreiro escuro:
— Ainda não.
— Tem tempo o suficiente para isso. — Flor Dourada, a rainha mais velha do Clã do Trovão e mãe de Garra de Amora Doce, falou de seu ninho de musgo.
Ela não tinha seus próprios filhotes para cuidar, mas tinha decidido ficar no berçário e ajudar as outras rainhas ao invés de retornar para suas tarefas de guerreira novamente; e em pouco tempo ela teria que se juntar aos anciãos. — Eles são fortes e saudáveis filhotes, e isso é o que importa.
Garra de Amora Doce abaixou sua cabeça respeitosamente em direção à rainha dourada:
— Nuvem de Avenca tem sorte de ter você para ajudá-la a cuidar deles.
— Bem, eu não fiz um trabalho tão ruim com você. — Ela ronronou com uma pitada de orgulho.
— Tem uma coisa que você poderia fazer por mim, — Pelagem de Poeira miou para Garra de Amora Doce no exato momento em que ele estava indo embora.
— Claro, se eu conseguir.
— Você poderia manter um olho em Pata de Esquilo? Eu quero passar um dia ou dois com Nuvem de Avenca, enquanto os filhotes ainda são bem pequenos. Mas Pata de Esquilo não deveria ser deixada sem um mentor por tanto tempo.
"Pata de Esquilo!" Garra de Amora Doce gemeu com decepção. A filha de Estrela de Fogo, oito Luas de idade, feita aprendiz recentemente... — E o maior incômodo no Clã do Trovão.
— Vai ser uma boa forma de praticar para quando você tiver seu próprio aprendiz. — Pelagem de Poeira adicionou, como se ele tivesse percebido a relutância de seu companheiro de Clã.
Garra de Amora Doce sabia que Pelagem de Poeira estava certo. Ele esperava que Estrela de Fogo o escolhesse como mentor em pouco tempo, para que ele pudesse ter seu próprio aprendiz e treiná-lo com base no Código dos Guerreiros, mas ele também esperava que seu aprendiz não fosse uma gata côr de gengibre sabichona que achava que sabia de tudo. Ele tinha consciência de que Pata de Esquilo não iria aceitar facilmente ordens vindas dele.
— Está bem, Pelagem de Poeira. — Ele miou. — Vou fazer meu melhor!
Quando Garra de Amora Doce emergiu do berçário, ele percebeu que mais gatos haviam aparecido na clareira. Coração Brilhante, uma bela gata branca com manchas alaranjadas em seu pêlo como folhas caídas, tinha acabado de escolher um pedaço de presa fresca e estava carregando-o para onde Cauda de Nuvem estava sentado. O lado normal de sua face estava virado para Garra de Amora Doce, e ele quase esqueceu as feridas desfigurantes que ela adquiriu quando a matilha de cães assombrava a Floresta. Um dos lados de seu rosto estava repleto de cicatrizes, e sua orelha tinha sido despedaçada; e só havia uma marca vaga onde seu olho deveria estar. Mesmo que tenha sobrevivido o ataque, o Clã temia que ela nunca se tornaria uma guerreira. Foi Cauda de Nuvem que treinou com ela e trabalhou suas habilidades, e agora ela podia caçar e lutar tão bem quanto qualquer gato.
Cauda de Nuvem a recebeu com um balançar de cauda animado e ela se sentou ao seu lado para comer sua presa.
— Garra de Amora Doce! Aí está você!
Ele se virou e viu um guerreiro alaranjado de pernas longas saindo da Toca dos Guerreiros e vindo em sua direção. Garra de Amora Doce parou para cumprimentá-lo:
— Oi, Pêlo de Samambaia. Listra Cinzenta disse que você estava organizando patrulhas de caça.
— Isso mesmo, — Pêlo de Samambaia falou. — Você iria com Pata de Esquilo esta manhã, por favor?
Ele curvou suas orelhas na direção da Toca dos Aprendizes, e pela primeira vez Garra de Amora Doce percebeu que Pata de Esquilo estava encolhida na sombra de algumas avencas que cercavam a toca. Sua cauda enrolada em volta de suas patas, seus olhos verdes seguiam uma borboleta de asas brilhantes. Quando Pêlo de Samambaia apontou-a com sua cauda, ela se levantou e atravessou a clareira, sua cauda erguida e seu pêlo vermelho escuro cintilando na luz do Sol.
— Patrulha de Caça, — Pêlo de Samambaia explicou brevemente. — Pelagem de Poeira está ocupado, então você pode ir com Garra de Amora Doce. Vocês podem encontrar outro gato para ir com vocês?
Sem esperar uma resposta, ele se encaminhou na direção de Tempestade de Areia e Pata Castanha. Pata de Esquilo ronronou e começou a se alongar:
— Bem, — Ela miou. — Onde devemos ir?
— Eu pensei nas Rochas Ensolaradas, — Garra de amora Doce começou. — Podíamos...
— Rochas Ensolaradas? — Pata de Esquilo interrompeu, seus olhos com descrença. — Você é idiota? Em um dia desses, todas as presas vão estar escondidas debaixo de rachaduras. Não iremos conseguir caçar nada.
— Ainda é cedo, — Garra de Amora Doce respondeu zangado. — As presas ainda vão ficar fora por mais algum tempo.
Pata de Esquilo soltou um suspiro:
— Honestamente, Garra de Amora Doce, você acha que sabe mais do que qualquer um.
— Eu sou um guerreiro! — Ele se justificou, e soube no exato momento que era a coisa errada a dizer.
Pata de Esquilo curvou sua cabeça exageradamente e disse com um tom respeitoso:
— Sim, Ó Grande Guerreiro! Eu irei fazer tudo o que você disser. E quando voltemos de patas vazias, talvez você admita que eu estava certa.
— Então, se você é tão sabia, onde você acha que deveríamos ir caçar?
— Á frente de Quatro Árvores, ao longo do córrego. — Pata de Esquilo respondeu de prontidão. — É um lugar muito melhor!
Garra de Amora Doce ficou ainda mais irritado quando percebeu que ela podia estar certa. Devido aos dias de extremo calor que tinham dominado a Estação das Folhas Verdes, o córrego ainda não havia secado e continuava a correr profundamente com espessos aglomerados de juncos onde a presa iria se esconder. Ele hesitou, imaginando como podia mudar sua opinião sem perder a razão aos olhos da aprendiz.
— Pata de Esquilo. — Uma nova voz o socorreu, e Garra de Amora Doce realizou que Tempestade de Areia, mãe de Pata de Esquilo, tinha se juntado a eles.
— Pare de despentear o pêlo de Garra de Amora Doce. Você é mais tagarela que um ninho de gralhas! — Seu semblante verde incomodado se virou para o guerreiro e ela adicionou. — E você é tão ruim quanto ela! Vocês dois estão sempre disputando; não podem ser designados para caçar juntos se não conseguem nem sair da clareira sem assustar quase toda as presas daqui até Quatro Árvores.
— Desculpe. — Garra de Amora Doce murmurou, com vergonha.
— Você é um guerreiro, devia conhecer melhor. Vá e pergunte a Cauda de Nuvem se você pode caçar com ele. E você, — Tempestade de Areia miou para sua filha. — Você pode vir e caçar comigo e Pata Castanha. Pêlo de Samambaia não irá se importar. E você irá fazer o que lhe for ordenado!
Sem olhar para trás, ela foi até o túnel de tojos que levava para fora do acampamento. Pata de Esquilo continuou imóvel por alguns minutos, uma expressão mal-humorado em seus olhos verdes. Ela remexeu as patas fronteiras, desgastando o gramado que recobria o solo.
Pata Castanha se aproximou e lhe deu uma cutucada amigável:
— Venha, essa é minha última caça como aprendiz. Vamos fazer dela um boa.
Relutante, Pata de Esquilo concordou, e as duas gatas se esvaíram atrás de Tempestade de Areia; a aprendiz côr de gengibre lançou um último olhar para Garra de Amora Doce assim que ela passou por ele.
Ele encolheu os ombros. Pata de Esquilo iria receber um treinamento mais experiente de Tempestade de Areia do que ela iria dele. E ele não teria que ficar a manhã inteira escutando seus resmungos, então ele não tinha certeza do porque estava se sentindo desapontado por não ido na mesma patrulha do que ela.
Deixando aquele sentimento de lado, ele trilhou seu caminho até onde Cauda de Nuvem e Coração Brilhante estavam acabando suas presas. Seu único filhote, Pata Branca, tinha acabado de se juntar a eles. Ao passo que ele se aproximava, ouviu ela dizer:
— Vocês vão caçar? Por Favor posso ir com vocês?
Cauda de Nuvem chicoteou sua cauda:
— Não. — Pata Branca começou a ficar desapontada, quando ele adicionou. — Pêlo de Samambaia disse que iria levar você. Ele é seu mentor, afinal.
— Ele me disse que está muito orgulhoso de você. — Coração Brilhante ronronou.
Pata Branca se iluminou:
— Legal, eu vou encontrá-lo.
Cauda de Nuvem deu uma cutucada carinhosa na orelha da aprendiz antes de ela ir embora, com a cauda balançando de empolgação.
Garra de Amora Doce esperava que isso não significasse que Cauda de Nuvem e Coração Brilhante queriam sair sozinhos.
— Vocês se importariam se eu me juntasse?
— Claro que você pode vir! — Cauda de Nuvem respondeu. Ele se ergueu sobre as patas e acenou para Coração Brilhante, então os três gatos trotaram juntos em direção ao túnel de tojos.
Um pouco antes deles desaparecerem entre os espinhos, Garra de Amora Doce lançou um último olhar sobre seu ombro para o Acampamento. Todos os gatos pareciam estar bem alimentados, de pelagem lustrosa, e confidentes de que seu território estava a salvo. A mensagem de Estrela Azul voltou a ecoar em sua mente. Poderia ser verdade que um grande perigo estava vindo para a Floresta? Garra de Amora Doce sentiu seu Pêlo se eriçar com um mal pressentimento. Ele decidiu não contar a nenhum gato sobre seu sonho. Essa parecia a única maneira com a qual ele poderia se convencer de que não significava nada, e não haveria nenhuma "Nova Profecia" vindo para atrapalhar a vida na Floresta.

O Sol estava se pondo em uma bola de Fogo, transformando as copas das Árvores em chamas e lançando longas sombras através da Clareira.
Garra de Amora Doce se alongou e suspirou com prazer. Ele estava cansado depois da longa caça, mas seu estômago estava confortavelmente cheio. Todo o Clã estava alimentado também, e havia uma ampla Pilha de Presas Frescas. Aquela Estação das Folhas Verdes estava sendo mais longa e quente do que qualquer outra, mas a Floresta continuava repleta de presas, e também havia muita água no córrego perto de Quatro Árvores.
"Um bom dia," Garra de Amora Doce pensou contentemente. "É assim que a Vida deveria ser."
O Resto do Clã estava começando a a deslizar em direção à Clareira e se reunir em volta da Pedra Alta, e o guerreiro se deu conta que estava na hora da cerimônia de guerreira de Pata Castanha. Ele se aproximou da Pedra Alta e se sentou perto do irmão de Nuvem de Avenca, Pêlo Gris, e este o cumprimentou com um aceno amigável. Listra Cinzenta já estava sentado na base da Pedra Alta, orgulhoso como se seu próprio aprendiz fosse se tornar guerreiro.
Listra Cinzenta era Pai de dois Filhotes, mas eles tinham sido criados no Clã do Rio, onde a mãe deles tinha nascido. Ele não tinha nenhum Filhote no Clã do Trovão, mas gostava de manter um olho aberto no progresso de todos os gatos jovens.
Enquanto Garra de Amora Doce observava; a Curandeira, Manto de Cinza e sua aprendiz, Pata de Folhas, se juntaram ao Representante. Pata de Folhas era irmã de Pata de Esquilo, mas as duas não eram nada parecidas! A aprendiz de Curandeira era menor e mais delicada, com uma bela pelagem marrom pálida e patas brancas. As irmãs também não eram parecidas em caráter. Quando Pata de Folhas se sentou e inclinou sua cabeça para o lado para ouvir a conversa da Mentora e do Representante, Garra de Amora Doce se perguntou por que ela era tão quieta e atenciosa enquanto sua irmã nunca parava de falar.
Por fim Estrela de Fogo, o Líder do Clã, apareceu de sua Toca que ficava do lado oposto da Pedra Alta. Ele era forte e ágil, sua pelagem brilhando como Fogo na Luz do Sol poente. Depois de pausar para trocar algumas palavras com Listra Cinzenta, ele pulou para o topo da Pedra Alta, de onde ele poderia ter uma visão geral do Clã do Trovão.
— Gatos do Clã do Trovão! — Ele anunciou. — Que todos os gatos com idade o suficiente para caçar sua própria presa se reúnam abaixo da Pedra Alta para uma Reunião de Clã.
A maioria dos gatos já estava lá, mas quando a voz de Estrela de Fogo ecoou pela Clareira, o restante dos membros de Clã deslizaram de suas Tocas para se juntarem aos outros.
Por último, apareceram Pata Castanha e sua Mentora, Tempestade de Areia. Seu pêlo atartarugado tinha acabado de ser alisado, e seu peito e patas brancas brilhavam como neve. Seus olhos âmbar brilhavam com orgulho e exibiam empolgação ao passo que ela atravessava a Clareira. Ao seu lado, Tempestade de Areia parecia tão orgulhosa quanto a Aprendiz; Garra de Amora Doce sabia o quanto a gata sofreu ao ver sua Aprendiz ferida no Caminho do Trovão. Ambas precisaram de coragem e perseverança para atingir essa Cerimônia.
Estrela de Fogo saltou para baixo da Pedra Alta para ficar de frente para a Aprendiz e sua Mentora.
— Tempestade de Areia, — Ele começou, usando as palavras formais que haviam sido transmitidas por gerações em cada Clã. — Você acha que esta aprendiz está pronta para se tornar uma guerreira do Clã do Trovão?
— Ela vai ser uma guerreira da qual o Clã vai poder se orgulhar! — Ela miou com convicção inclinado sua cabeça para o Líder.
Estrela de Fogo ergueu seus olhos para onde as primeiras estrelas do Tule de Prata estavam começando a aparecer no céu do anoitecer.
— Eu, Estrela de Fogo, Líder do Clã do Trovão, peço aos guerreiros ancestrais para olhar para esta Aprendiz. Ele foi bem treinada para entender as Regras de nosso nobre Código. E eu indico ela a vocês como Guerreira, em retorno. — Ele se voltou para Pata Castanha, fixando seu semblante no dela. — Pata Castanha, você promete respeitar o Código dos Guerreiros e defender esse Clã, mesmo que custe sua vida?
Relembrando o quão ansioso ele tinha se sentido no momento de sua própria cerimônia de Guerreiro, Garra de Amora Doce observou o corpo inteiro de Pata Castanha estremecer com antecipação quando ela abaixou a cabeça e miou claramente:
— Eu prometo.
— Então pela força do Clã das Estrelas, eu te dou seu nome de Guerreira. Pata Castanha, desse momento em diante você será conhecida como Cauda Castanha! O Clã das Estrelas honra a sua coragem e paciência, e te recebe como uma Guerreira do Clã do Trovão.
Dando um passo á frente, Estrela de Fogo pressionou seu focinho contra a testa de Cauda Castanha. Em retorno, ela deu uma lambida respeitosa no ombro do Líder e se afastou. O resto dos guerreiros se reuniram a sua volta, parabenizando-a e miando seu novo nome:
— Cauda Castanha! Cauda Castanha!
Seus irmãos, Pêlo de Fuligem e Bigode de Chuva, estavam entre os primeiros. Seus olhos brilhando de orgulho pela irmã, que finalmente havia se reunido a eles como Guerreira.
Estrela de Fogo esperou os murmúrios diminuírem, e falou:
— Cauda Castanha, de acordo com a tradição você deve ficar de vigia em silêncio esta noite, e observar o Acampamento.
— Enquanto o resto de nós tem uma Boa Noite de sono! — Cauda de Nuvem completou.
O Líder do Clã lançou olhar de alerta para ele, mas não disse nada. Os gatos se distanciaram, para deixar Cauda Castanha tomar sua posição no meio da Clareira. Ela se sentou com a cauda enrolada em volta das patas e seu semblante fixado do céu escuro, onde a brilho do Tule de Prata aumentava ao passo que a noite se aproximava.
Com a cerimônia finalizada, o resto do Clã desapareceu nas sombras. Garra de Amora Doce se alongou e bocejou, procurando pelo seu ninho confortável na Toca dos Guerreiros, mas se contentou em ficar na Clareira mais um pouco para aproveitar a tarde quente. Ele não podia ver nenhum sinal de que os gatos tinham partilhado o mesmo sonho perturbador; e Estrela Azul tinha dito que mais três gatos estariam envolvidos na nova profecia. Garra de Amora Doce sentiu um ronronar surgir em seu peito, divertido por o quão rápido ele tinha acreditado que um gato do Clã das Estrelas o tinha visitado em seus sonhos, o que era uma loucura! Isso iria ensinar a ele para não comer antes de ir dormir!
— Garra de Amora Doce. — Estrela de Fogo se aproximou, e se sentou ao lado dele. — Cauda de Nuvem me disse que você caçou bem hoje.
— Obrigada, Estrela de Fogo.
O semblante do Líder estava fixo em suas filhas, Pata de Folhas e Pata de Esquilo, que estavam indo em direção à Pilha de Presas Frescas.
— Você sente falta de Pele de Açafrão? — Estrela de Fogo miou, para a surpresa do Guerreiro, que apenas piscou enquanto buscava uma resposta.
Pele de Açafrão era sua irmã; o antigo Representante do Clã do Trovão, Estrela Tigrada, era Pai deles antes de ser banido por tentar roubar o poder de Estrela Azul, que era a Líder na época. Depois, Estrela Tigrada, se fez Líder do Clã das Sombras, para depois ser morto por um gato qualquer na tentativa de estender seu poder sobre toda a Floresta. Pele de Açafrão sempre sentiu que o Clã a culpava pelos crimes de seu Pai, e ela decidiu se juntar ao Clã das Sombras pouco tempo depois que ele assumiu a liderança.
— Sim, — Garra de Amora Doce respondeu. — Eu sinto falta dela todos os dias.
— Eu não entendia o que você sentia em relação a ela, não até eu ver o quão próximos vocês dois eram. — Ele apontou para as duas Aprendizes, que estavam escolhendo presa da Pilha.
— Estrela de Fogo, você não está sendo justo consigo mesmo. — Garra de Amora Doce insistiu, um pouco desconfortável. — Depois de tudo, você ainda sente falta da sua irmã, não?
Estrela de Fogo tinha começado uma vida como Gatinho de Gente antes de se juntar ao Clã do Trovão, e sua irmã, Princesa, continuava a viver com os Duas Pernas. Estrela de Fogo a visitava de vez enquanto, e Garra de Amora Doce sabia o quão importante eles eram um para o outro. Princesa tinha dado a Estrela de Fogo seu primogênito para ser criado como Guerreiro. — E esse era Cauda de Nuvem, o amigo fiel de Coração Brilhante.
Estrela de Fogo balançou sua cabeça de um lado para o outro, pensando:
— Claro que eu sinto falta de Princesa, — Ele finalmente miou. — Mas ela é uma Gatinha de Gente, e nunca poderia ter esse tipo de vida. Você deve desejar que Pele de Açafrão tivesse ficado no Clã do Trovão...
— Eu acho que sim, — Garra de Amora Doce admitiu. — Mas ela está mais feliz onde está agora.
— Isso é verdade. — Estrela de Fogo concordou com a cabeça. — A coisa mais importante é que vocês dois encontraram um Clã no qual podem ser leais.
Um sentimento quente surgiu em Garra de Amora Doce. Por um tempo, Estrela de Fogo, tinha duvidado de sua lealdade pelo fato de ele ser muito parecido com seu Pai, Estrela Tigrada, com o mesmo corpo musculoso, pêlo escuro malhado e o mesmo tom de âmbar nos olhos.
De repente, Garra de Amora Doce se perguntou se um gato leal iria mencionar o sonho profético e o aviso de Estrela Azul de que um grande perigo se aproximava da Floresta. Ele estava tentando encontrar as palavras certas quando Estrela de Fogo se levantou, abaixou sua cabeça em despedida, e foi em direção ao lugar onde Tempestade de Areia e Listra Cinzenta estavam sentados próximos da Pedra Alta.
Garra de Amora Doce quase o seguiu, mas aí ele se lembrou que se o Clã das Estrelas realmente quisesse enviar uma profecia de grande perigo, não a enviariam para um dos Guerreiros mais jovens e inexperientes do Clã. Eles iram ao menos falar com o Curandeiro, ou talvez com o Líder mesmo. E obviamente Estrela de Fogo e Manto de Cinza não haviam recebido um presságio, ou eles estariam dizendo ao Clã o que fazer sobre isso. Não, Garra de Amora Doce disse a si mesmo, não nada tinha para se preocupar.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Meia Noite / Prólogo

A noite reinava sobre a floresta. Não havia Lua, mas as estrelas do Tule de Prata exibiam seu brilho gelado, que reluzia nas copas das árvores. No centro de uma ravina rochosa, uma poça refletia a luz estelar. O ar estava pesado com os cheiros da Estação das Folhas Verdes, que havia chegado atrasada. O vento sussurrou suavemente por entre as árvores e agitou a quieta superfície da poça. No topo da ravina, as frontes de uma samambaia se abriram para revelar um gata; seu pêlo cinza-azulado cintilou, enquanto ela pulava delicadamente de rocha em rocha, para chegar até a margem da água. Sentada em uma pedra plana que se juntava á margem da poça, ela levantou sua cabeça para olhar em volta. Como que em um sinal, mais gatos começaram a aparecer, deslizando em direção á ravina, vindos de todas as direções. Eles se acomodaram o mais próximo possível da margem, até todos os espaços disponíveis fossem preenchidos por formas que fitavam a superfície reluzente, ansiosos.
A gata que havia aparecido primeiro se levantou e sustentou-se nas em suas patas:
— Uma nova profecia nos foi enviada! — Ela miou. — Uma que vai mudar tudo, foi revelada pelas estrelas.
Do lado oposto da poça, outro gato sacudiu sua cabeça cor de samambaia, em afirmação.
— Eu também ví. Dúvidas vão surgir, e um grande desafio eles terão de enfrentar, — Ele concordou.
— Escuridão, ar, água e céu irão vir juntos, e chacoalhar a Floresta até as raízes, — A primeira gata continuou.— Nada mais será a mesma coisa.
— Uma grande tempestade está se aproximando, — Outra voz miou, e a palavra 'Tempestade' foi repetida e passada ao longo do círculo de gatos, até parecer que um trovão havia estourado em meio a eles, que assistiam atentos.
Assim que o murmúrio se dizimou, um gato esbelto de espesso pêlo negro, se aproximou da margem e falou em alto e bom som, de modo que todos os gatos pudessem ouvir-no.
— Nada pode mudar o que está prestes a acontecer? Nem mesmo a coragem e espírito do mais valente dos guerreiros?
— A profecia irá se concretizar, — A gata cinza-azulada respondeu. — Mas se os clãs enfrentarem isso como guerreiros, eles podem sobreviver. — Pendendo sua cabeça, ela deixou seu semblante luminoso passar de gato em gato.—Todos vocês viram o que vai acontecer com a floresta, — Ela miou. — E vocês sabem o que deve ser feito. Quatro gatos devem ser escolhidos para segurar o força de seus clãs em suas patas. Vocês estão prontos para fazerem suas escolhas diante de todo Clã das Estrelas?
Assim que ela acabou de falar, a superfície do poça se ondulou, embora não houvesse vento para causar distúrbio, e então se estabilizou novamente. O gato cor de samambaia levantou-se, a luz estelar transformando o pêlo em seus ombros musculosos em prateado:
— Eu irei começar, — Ele miou, e virou a cabeça para o lado, para encontrar o semblante de um gato malhado de tons de marrom-claro com uma mandíbula deslocada. — Estrela Torta, eu tenho sua permissão para falar pelo Clã do Rio? — O gato malhado acenou com a cabeça em concordância, e o primeiro gato continuou. — Então eu convido vocês para ver e aprovar minha escolha.
Ele se sentou novamente e olhou para baixo, determinado. O reflexo de uma bela gata cinza pálido apareceu na superfície da poça, e todos os gatos esticaram o pescoço para poder vê-la claramente.
— Essa? — murmurou a gata cinza-azulado, fitando a forma na água. — Você tem certeza, Coração de Carvalho?
A ponta da cauda do gato se agitou e moveu-se de um lado para o outro:
— Eu pensei que essa escolha fosse te deixar lisonjeada, Estrela Azul. — Ele miou com provocação em seu tom. — Você acha que ela não foi bem treinada?
— Ela foi excelentemente treinada! — O pêlo do peitoral de Estrela Azul se eriçou como se ele estivesse dizendo alguma coisa para provocá-la, e então se confortou novamente. — O resto do Clã das Estrelas concorda? — Ela perguntou.
Um murmúrio de aceitação emergiu por entre os gatos que assistiam, e a forma cinza-claro desapareceu da superfície brilhante, deixando-a limpa e vazia novamente.
Agora o gato negro se levantou e parou bem em frente á margem da poça:
— Essa é minha escolha, — Ele anunciou. — Vejam e aprovem-na!
Dessa vez a forma que se formou na poça era atartarugada e esbelta, com fortes, ombros musculosos. Estrela Azul fixou seu semblante nela por alguns momentos antes de acenar com a cabeça:
— Ela tem a coragem, habilidade e determinação. — A gata concordou.
— Mas Estrela da Noite, ela tem lealdade? — Chamou outro gato.
A cabeça do gato negro olhou em volta e ele cravou suas garras no chão á sua frente:
— Você está dizendo que ela é desleal?
— Se estou, tenho boas razões para isso! — A resposta foi atirada de volta. — Ela não nasceu no Clã das Sombras, certo?
— Então isso pode fazer dela uma boa escolha, — Estrela Azul miou calmamente. — Se os clãs não trabalharem em conjunto agora, eles todos serão destruídos. Talvez se escolhemos gatos com uma pata em dois clãs, eles irão entender melhor o que deve ser feito. — Ela fez uma pausa, mas nenhuma outra objeção foi ouvida, então ela continuou. — O Clã das Estrelas aprova?
Houve um momento de hesitação, mas não durou muito até que miados suaves de aprovação emergiram por entre os gatos. A superfície da poça se agitou brevemente, e quando se estabilizou novamente a forma atartarugada tinha se esvaído. Outro gato negro levantou e aproximou-se da margem mancando devido a uma pata deslocada:
— Minha vez, eu acho, —Ele ralhou. — Vejam e aprovem minha escolha.
A forma cinza-escura que se formou era difícil de se ver através do reflexo do céu noturno, e os gatos observaram-na  antes de qualquer um deles falar.
— O que? — O gato cor de samambaia exclamou por último. — É um aprendiz!
— Eu percebi, obrigada, Coração de Carvalho. — O gato preto miou secamente.
— Pé Morto, você não pode mandar um aprendiz em um perigo tão grande como esse! — Outra voz chamou do fundo do grupo de gatos.
— Aprendiz ele pode ser, —Pé Morto retorquiu. — Mas ele tem coragem e habilidades para igualar muitos guerreiros. Um dia ele pode fazer um ótimo líder para o Clã do Vento.
— Um dia não é agora. — Estrela Azul mencionou. — E as qualidades de um líder não são necessariamente estas que os clãs precisam para salvá-los agora. Você deseja fazer outra escolha?
Pé Morto chicoteou sua cauda com fúria e seu pêlo eriçou  ao mesmo tempo que ele parou para encarar Estrela Azul:
— Essa é minha escolha, — Ele insistiu. — Você, ou qualquer outro gato, ousam dizer que ele não é bom o suficiente?
— O que vocês acham? — O seu semblante viajou ao redor dos gatos ali presentes. — O Clã das Estrelas aprova? Lembrando que todos os clãs estarão perdidos se um de nossos escolhidos mostrar fraqueza or fracassar.
Ao invés de um murmúrio de aprovação, os gatos matutaram uns com os outros em pequenos grupos, lançando olhares desconfiados para o reflexo na poça e ao gato que estava ao lado. Pé Morto os encarou de volta com fúria eminente em seus olhos,  seu pêlo felpudo se eriçou, fazendo com que ele parecesse duas vezes o seu tamanho original. Ele estava obviamente pronto para atacar qualquer gato que o desafiasse. Aos poucos o murmúrio começou a se dissolver e Estrela Azul perguntou mais uma vez:
— O Clã das Estrelas aprova? — O consentimento veio, mas era mais baixo e relutante e alguns gatos não falaram nada. Pé Morte grunhiu e se virou para voltar para seu lugar.
Quando a água estava limpa novamente, Coração de Carvalho, miou:
— Você ainda não fez sua decisão pelo Clã do Trovão, Estrela Azul.
— Não, mas estou preparada agora, — Ela respondeu. — Vejam e aprovem minha escolha. — E assim que terminou de dizer essas palavras ela fixou seu semblante na água e, orgulhosa, observou uma forma escura malhada se formar nas profundezas da poça.
Coração de Carvalho fitou a forma por algum tempo e depois tentou abafar um miado de risada:
— Esse gato! Estrela Azul, você nunca para de me surpreender!
— Por que? — O tom de Estrela Azul demonstrava que ela estava surpresa. — Ele é um nobre gato, apto para os desafios que está profecia irá trazer.
As orelhas de Coração de Carvalho se agitaram:
— Eu disse que ele não era?
Estrela Azul fitou o semblante do companheiro, e o desafiou com o olhar. E sem olhar para os outros gatos anunciou:
— O Clã das Estrelas aprova?
Quando a assentimento veio forte e confiante, ela chicoteou sua cauda para Coração de Carvalho e esboçou um sorriso de triunfo, e depois se virou para fitar os gatos ali presentes.
— Membros do Clã das Estrelas, — Ela miou, elevando sua voz. — Suas escolhas foram feitas. Em pouco tempo a jornada deve começar, para então encontrar a terrível tempestade que foi lançada sobre a floresta. Voltem para seus clãs e se certifiquem de que cada gato está pronto.
Ela fez uma pausa e seus olhos chamuscaram com um brilho de luz prateada:
— Nós podemos escolher um guerreiro para salvar cada clã, mas além disse não podemos ajudá-los. Que os espíritos  de todos os nossos guerreiros ancestrais viajem com esses gatos, onde é que as estrelas os levarem!